De acordo com os pediatras, a
birra é uma manifestação de qualquer conflito ou pressão que a criança não
consegue resolver de outra maneira, como, por exemplo, verbalmente. E, como
todas as manifestações, a birra tem um objetivo e um motivo, mesmo quando
parece vinda do nada e a propósito de coisa nenhuma. Daí que seja muito
importante que a criança não consiga tirar partido da birra. Esta é, por isso,
a regra número um para todos os pais: não ceder às birras dos filhos.
Se a criança perceber que fazer
birra resulta, ela vai perpetuar esse comportamento. Por isso, é fundamental
não deixar que a criança manipule e atinja os seus objetivos pelo facto de
estar a fazer uma birra. Se a criança souber que não tem ganhos adicionais, deixa
provavelmente de fazer birras. Mas falar é fácil, claro.
Como é que se consegue lidar e
«negociar» com uma criança aos gritos e aos pontapés que não ouve ninguém?
Antes de mais, há que perceber que a birra é normal nas crianças mais pequenas
e que é uma coisa espontânea, não é premeditada. Em segundo lugar, os pais
devem ter consciência de que a criança precisa de tempo para resolver esse
conflito interno. Terceiro, e não menos importante: se os pais perdem a calma
(e todos sabemos como é fácil perdê-la), deitam tudo a perder.
Há fatores que influenciam
negativamente a frequência das birras, como o mau ambiente familiar. Um mau
ambiente em casa gera uma educação desorganizada, sem consistência, e isto
agrava o comportamento birrento das crianças. Por outro lado, viver sem regras
também não é bom. A permissividade perante uma birra é o pior erro que os pais
podem cometer.
Deixar a criança resolver a birra
entregue a si própria é, muitas vezes, a melhor opção, defendem os pediatras.
Dar-lhe pouca atenção, deixá-la no quarto a espernear e dizer-lhe «já volto» é
muitas vezes a solução para a birra parar. Quanto mais atenção se dá à criança,
mais ela tenta levar a sua avante. Quando a birra acontece num local público, a
solução é retirá-la o mais depressa possível do centro das atenções, porque a
assistência pública prolonga a birra. Leve-a até à rua, ou até à casa de banho.
O importante é que ela não esteja a ser o centro das atenções. Por outro lado,
não caia na tentação de ao repreender em público. Vai ver que só piora a
situação.
Entretanto, como meio de
segurança, não se esqueça de retirar objetos perigosos que possam estar ao
alcance da criança que está a fazer uma birra.
Passada a idade das birras — a
partir dos 2, 3, anos —, o mais natural é que estas sejam cada vez menos
frequentes e menos intensas, até que desaparecem de vez. Daí que seja
necessária alguma atenção a certas situações desajustadas, que podem revelar
algum problema no desenvolvimento da criança. As birras desajustadas da
situação, do contexto e da idade são, muitas vezes, o primeiro alerta para
eventuais perturbações do desenvolvimento e do espectro do autismo. Birras
muito frequentes, muito prolongadas e já depois dos 3 anos podem indiciar algum
problema. Também não é normal aquela situação em que a criança vive em birra
permanente.
Afastadas as possibilidades de
problemas relacionais ou outros, o comportamento birrento acaba por passar.
Tenha paciência, muitas vezes a criança está só a tentar chamar a atenção. O
melhor mesmo é tentar resolver o problema envolvendo-a na solução.
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