segunda-feira, 7 de abril de 2014

Birras e mais birras

De acordo com os pediatras, a birra é uma manifestação de qualquer conflito ou pressão que a criança não consegue resolver de outra maneira, como, por exemplo, verbalmente. E, como todas as manifestações, a birra tem um objetivo e um motivo, mesmo quando parece vinda do nada e a propósito de coisa nenhuma. Daí que seja muito importante que a criança não consiga tirar partido da birra. Esta é, por isso, a regra número um para todos os pais: não ceder às birras dos filhos.
Se a criança perceber que fazer birra resulta, ela vai perpetuar esse comportamento. Por isso, é fundamental não deixar que a criança manipule e atinja os seus objetivos pelo facto de estar a fazer uma birra. Se a criança souber que não tem ganhos adicionais, deixa provavelmente de fazer birras. Mas falar é fácil, claro.
Como é que se consegue lidar e «negociar» com uma criança aos gritos e aos pontapés que não ouve ninguém? Antes de mais, há que perceber que a birra é normal nas crianças mais pequenas e que é uma coisa espontânea, não é premeditada. Em segundo lugar, os pais devem ter consciência de que a criança precisa de tempo para resolver esse conflito interno. Terceiro, e não menos importante: se os pais perdem a calma (e todos sabemos como é fácil perdê-la), deitam tudo a perder.
Há fatores que influenciam negativamente a frequência das birras, como o mau ambiente familiar. Um mau ambiente em casa gera uma educação desorganizada, sem consistência, e isto agrava o comportamento birrento das crianças. Por outro lado, viver sem regras também não é bom. A permissividade perante uma birra é o pior erro que os pais podem cometer.
Deixar a criança resolver a birra entregue a si própria é, muitas vezes, a melhor opção, defendem os pediatras. Dar-lhe pouca atenção, deixá-la no quarto a espernear e dizer-lhe «já volto» é muitas vezes a solução para a birra parar. Quanto mais atenção se dá à criança, mais ela tenta levar a sua avante. Quando a birra acontece num local público, a solução é retirá-la o mais depressa possível do centro das atenções, porque a assistência pública prolonga a birra. Leve-a até à rua, ou até à casa de banho. O importante é que ela não esteja a ser o centro das atenções. Por outro lado, não caia na tentação de ao repreender em público. Vai ver que só piora a situação.
Entretanto, como meio de segurança, não se esqueça de retirar objetos perigosos que possam estar ao alcance da criança que está a fazer uma birra.
Passada a idade das birras — a partir dos 2, 3, anos —, o mais natural é que estas sejam cada vez menos frequentes e menos intensas, até que desaparecem de vez. Daí que seja necessária alguma atenção a certas situações desajustadas, que podem revelar algum problema no desenvolvimento da criança. As birras desajustadas da situação, do contexto e da idade são, muitas vezes, o primeiro alerta para eventuais perturbações do desenvolvimento e do espectro do autismo. Birras muito frequentes, muito prolongadas e já depois dos 3 anos podem indiciar algum problema. Também não é normal aquela situação em que a criança vive em birra permanente.

Afastadas as possibilidades de problemas relacionais ou outros, o comportamento birrento acaba por passar. Tenha paciência, muitas vezes a criança está só a tentar chamar a atenção. O melhor mesmo é tentar resolver o problema envolvendo-a na solução.

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